SOUZA, Danielle Manera Ramalho
https://orcid.org/0009-0000-4516-2802
Mestranda em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e na Educação, Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Neuropsicopedagogia, Psicomotricidade e Atendimento Educacional Especializado (AEE).
INTRODUÇÃO
O acolhimento de pessoas com deficiência, por meio da utilização do material adaptado na Escola Bíblica Dominical (EBD) é um tema de extrema importância, uma vez que visa garantir o acesso eficaz a conteúdos educacionais para esse público. Neste contexto, o objetivo deste artigo é discutir a relevância e os benefícios do uso de material adaptado na EBD, destacando como essa prática contribui para o acolhimento e para a efetiva aprendizagem das pessoas com deficiência.
ACOLHIMENTO E ACESSIBILIDADE
O uso de materiais adaptados na Escola Bíblica Dominical (EBD) desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, sensorial e motor das pessoas com deficiência (Dias; Oliveira, 2013). Ao proporcionar a oportunidade de aprendizado por meio da acessibilidade, cada professora estará promovendo o acolhimento e dando condição para que a pessoa compreenda a Palavra de Deus com profundidade.
O acolhimento e a acessibilidade são pilares essenciais para a implementação efetiva do material adaptado, criando um ambiente inclusivo e receptivo, no qual as pessoas com deficiência se sentem valorizadas e respeitadas em sua individualidade (Camargo; Baleotti, 2026). A acessibilidade, por sua vez, amplia as possibilidades de participação ativa dessas pessoas nas atividades educacionais, contribuindo para o seu desenvolvimento integral.
Dicas para promover a acessibilidade:
- Realizar uma avaliação das necessidades específicas de cada pessoa com deficiência, a fim de selecionar os recursos adaptados mais adequados.
- Buscar ajuda técnica de ensino inclusivo e o uso correto dos materiais adaptados.
- Oferecer alternativas de comunicação, como Língua Brasileira de Sinais (Libras), legendas e descrição de imagens, para atender às necessidades dos participantes.
Ao adotar abordagens acessíveis, as pessoas que precisam de acessibilidade, durante a Escola Bíblica Dominical, podem participar ativamente da aula.
DESENVOLVIMENTO CEREBRAL E NEUROPLASTICIDADE
Os materiais adaptados estimulam o cérebro de diversas maneiras, proporcionando experiências sensoriais diferenciadas e ativando diferentes áreas cerebrais. Essa abordagem auxilia na promoção da neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e se reorganizar em resposta a novos estímulos. Tais estímulos sensoriais, cognitivos e motores são essenciais para o desenvolvimento cerebral, especialmente em crianças e indivíduos com dificuldades cognitivas.
ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO
Existem diversas estratégias e atividades que podem ser utilizadas para adaptar materiais, como a criação de jogos, exercícios cognitivos e atividades sensoriais (Santos, 2024). É importante considerar a individualidade de cada pessoa e suas necessidades específicas na hora de planejar e implementar esses recursos adaptados.
Desta forma, a iniciativa da Igreja Cristã Maranata (ICM), em adaptar materiais para o ensino que é passado na Escola Bíblica Dominical (EBD), é um cuidado, pensando em atingir com maior facilidade cada indivíduo, seja uma criança, um adolescente, adulto ou idoso. É importante ressaltar que não existe um material específico para uma pessoa com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), por exemplo, não existe um material específico para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), ou Altas Habilidades/Superdotação, ou ainda pessoas com Transtorno Opositor Desafiante. O que se pode e deve-se fazer, é adaptar, resumindo o conteúdo, sem fugir ao que o Senhor tem preparado para todos, porém, com recursos facilitadores, que é o material adaptado.
Seguem abaixo algumas sugestões adaptadas para crianças com necessidades especiais na escola bíblica dominical da Igreja Cristã Maranata:
- Conhecer cada criança individualmente: É importante que a professora conheça as necessidades específicas de cada criança, como deficiências, dificuldades de aprendizagem, etc. Isso permitirá que ela possa adaptar melhor a aula.
- Diversificar os recursos didáticos: Utilizar uma variedade de recursos como slides, vídeos, objetos táteis, atividades manuais, etc. Isso permite atender diferentes estilos de aprendizagem.
- Adaptar o conteúdo e a linguagem: Simplificar a linguagem, usar frases curtas e vocabulário simples. Também é importante adaptar o conteúdo, tornando-o mais concreto e acessível.
- Proporcionar mediação e apoio individual: Ter ajudantes ou monitores que possam dar atenção individualizada às crianças com maior necessidade de apoio durante a aula.
- Envolver os sentidos: Utilizar atividades que estimulem os diferentes sentidos (visão, audição, tato, etc) para facilitar a compreensão e a participação.
- Criar um ambiente acolhedor e acessível: Garantir que a sala seja acessível e que todas as crianças se sintam valorizadas e participativas.
O mais importante é que a professora esteja aberta a aprender e a se adaptar às necessidades de cada criança, buscando formas criativas de tornar a aula significativa e acessível a todos.
Para atingir o objetivo proposto, é necessário criar um ambiente acolhedor e adaptado às necessidades de cada criança, permitindo sua plena participação e envolvimento nas atividades propostas. Dessa forma, tornam-se necessárias as seguintes estratégias:
- A Acessibilidade: É importante garantir que a classe de acessibilidade seja adaptada tanto para crianças como para adolescentes, considerando suas necessidades específicas.
- Professora mediadora: A professora mediadora deve ficar ao lado dos alunos, adaptando a aula e o material didático para atender melhor às suas necessidades. Ela pode, por exemplo, usar slides com menos cores e uma linguagem mais simples, considerando o pouco tempo de atenção das crianças com deficiência.
- Adaptação do ambiente: É necessário minimizar os estímulos e distrações no ambiente, pois eles podem prejudicar a atenção de crianças, especialmente aquelas com autismo.
- Materiais adaptados: O uso de materiais simples e baratos, como palitos de picolé, é uma boa alternativa para criar recursos didáticos adaptados. Isso permite que as professoras possam reproduzir as atividades com facilidade.
- Níveis de deficiência: É importante considerar os diferentes níveis de severidade das deficiências das crianças, ajustando o material, a fala e o tempo da aula de acordo com as necessidades de cada grupo.
- Flexibilidade e autorização: Algumas soluções, como levar a aula para o jardim, podem ser necessárias em situações específicas, quando a criança sai da sala e prefere ficar no jardim. Lógico, é apenas uma sugestão, pois dependerá de cada igreja e tudo com autorização do ministério local.
Existem diversas formas de adaptar o material da EBD. Todas as ações durantes as aulas são estímulos pequenos, devido ao pouco tempo de aula. Por exemplo: os gestos que as crianças realizam durante o louvor é um estímulo.
Portanto, a criança terá a sua aula, a mensagem entrará de forma acessível no coração e o Espírito Santo fará o restante.
Para exemplificar com algo prático, elaboramos algumas sugestões de materiais didáticos adaptados, conforme seguem abaixo:
- Sugestão 1 – Um barquinho (Figura 1), feito com EVA, e colocamos os corações vazios (em branco). Observem que não colocamos nomes nos corações, pois as irmãs irão falar o nome dos personagens da aula em questão. Assim, as irmãs poderão utilizar este barquinho para outras aulas. Mas, poderá fazer o nome e colar ou simplesmente falar o nome. Estas adaptações são realizadas com materiais bem simples que as irmãs geralmente têm em casa. Neste caso do barquinho, tínhamos em casa palito de churrasco, o que utilizamos para sustentar a mastro do barquinho (Figura 2), mas poderia ser elaborado com palitos de sorvete ou outro material que a irmã quisesse utilizar.
Figura 1: Barquinho de EVA Figura 2: Utilizando palito de churrasco.
Fonte: Acervo Acessibilidade ICM (2024) Fonte: Acervo Acessibilidade ICM (2024)
Ao abordar o tema do coração cheio do Espírito Santo (Figura 3) e do coração vazio (Figura 4), a professora pode elaborar os modelos dos corações em EVA.
Outra sugestão, que para isso pode-se citar o texto Bíblico:
“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” (Salmos 51:10).
Onde a professora pode enfatizar a necessidade de um coração puro e um espírito reto, guiado pelo Espírito Santo. Ao adaptar as atividades para incluir estímulos sensoriais, busca-se alcançar o coração das crianças de uma forma significativa e acessível.
Figura 3: Coração vazio Figura 4: Coração cheio
Fonte: Acervo Acessibilidade ICM (2024) Fonte: Acervo Acessibilidade ICM (2024)
Neste caso, os corações podem ser revestidos com materiais como glitter, permitindo que as crianças passem a mão e sintam a textura (estímulo sensorial). É importante considerar a sensibilidade de cada criança e oferecer opções alternativas, caso alguma tenha desconforto com determinados estímulos sensoriais. A professora deve estar atenta às necessidades individuais dos alunos e adaptar a atividade de forma acessível.
- Sugestão 2 – Trata-se de uma dinâmica simples utilizando um modelo de trenzinho (Figura 5), seja ele confeccionado em MDF, EVA ou mesmo aquele já existente na decoração da sala de aula. O trenzinho pode ser adaptado para atender crianças de diferentes idades e necessidades. Para as crianças com menor tempo de concentração, o trenzinho pode servir como um elemento facilitador do engajamento. Para aquelas com foco neste recurso, o trenzinho pode despertar maior interesse pela aula. No primeiro vagão, pode ser colocado um coração, feito de feltro ou outro material simples, representando as crianças que estão ingressando na Escola Bíblica Dominical (EBD). No vagão da EBD, pode-se utilizar um envelope com uma interrogação, despertando a curiosidade das crianças sobre o tema da aula, que, por exemplo, pode ser sobre Timóteo, Paulo e Silas.
Figura 5: Trenzinho
Fonte: Acervo Acessibilidade ICM (2024)
As professoras podem, ainda, adicionar outros recursos, como quebra-cabeças ou jogos da memória, com personagens relacionados à aula, para serem transportados no trenzinho. Dessa forma, as crianças poderão se concentrar melhor e se interessar mais pelas atividades propostas.
Esta sugestão visa promover uma experiência de aprendizagem engajadora e acessível a todos os alunos, levando em consideração suas necessidades individuais. Espera-se que esta proposta contribua positivamente para o desenvolvimento espiritual e social das crianças.
CONCLUSÃO
A utilização de materiais adaptados na Escola Bíblica Dominical (EBD) é um aspecto adequado para promover o desenvolvimento integral e o bem-estar de pessoas com deficiência. Ao criar e adotar recursos acessíveis, a Igreja Cristã Maranata demonstra seu compromisso em oferecer oportunidades de aprendizado e participação ativa a todos os indivíduos, independentemente de suas limitações.
Essa abordagem acolhedora reflete os valores fundamentais da Igreja e o seu principal objetivo que é dar acesso à Palavra de Deus para que haja salvação de vidas. Ao garantir a plena participação de pessoas com deficiência nas atividades da EBD, a igreja contribui para a sua integração social, fortalecimento de suas habilidades e fortalecimento espiritual por meio da Palavra de Deus que é vida.
“Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2:10)
Somos criados por Deus para realizar boas obras, por meio do Espírito Santo. Como Igreja, Corpo de Cristo, cada membro cria oportunidades de participação e desenvolvimento para pessoas com deficiência, a fim de que elas possam servir ao Senhor com alegria, compreendendo a Palavra revelada e contribuindo na Obra de salvação de vidas.
REFERÊNCIAS
Bíblia Sagrada. São Paulo: Almeida Revista e Corrigida: Edição e diagramação: Sociedade Bíblica do Brasil, 2016.
Bízio, Lucimar. Doutor em Linguística Aplicada, Pastor da ICM. Contribuição na revisão doutrinária no artigo “A Importância do Material Adaptado na Escola Bíblica Dominical, de autoria de Danielle Manera Ramalho Souza, 2024.
Camargo, Eder Pires de; Baleotti, Luciana Ramos. Inclusão escolar e a necessidade de se (re)pensar as estratégias de ensino. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 22, 2016.
Dias, Gabriela Marques; Oliveira, Ana Augusta Sampaio de. A importância da estimulação sensorial para o desenvolvimento de crianças com deficiência. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, v. 21, n. 1, 2013.
Rocha, Leonice Monteiro Dias. Doutora em Ciência da Educação e Professora de Metodologia da Pesquisa Científica. Orientação no artigo “A Importância do Material Adaptado na Escola Bíblica Dominical, de autoria de Danielle Manera Ramalho Souza, 2024.
Santos, Aaron Froede. Médico Oncologista Clínico, Contribuição na revisão doutrinária no artigo “A Importância do Material Adaptado na Escola Bíblica Dominical, de autoria de Danielle Manera Ramalho Souza, 2024.
Santos, Gabriel. Atividades sensoriais com materiais da natureza. Disponível em: https://escolhendobem.com.br/explorando-a-natureza-atividades-sensoriais-que-encantam-e-aprendem/. Acesso em: 7 jun. 2024.