Fé: O Elo Perdido

Introdução

O entendimento bíblico de Fé pronunciado pelo Senhor Jesus para o tempo profético dos nossos dias está fundamentado no texto bíblico de Hebreus 11:1 “Ora, a Fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” [1]. Os destaques dados no texto apontam para uma Fé que tem como características o fundamento firme, o que se espera, o que não se vê, e isso se contrapõe de maneira muito clara ao que se pode construir pela razão humana, cuja base está no conhecido, no que se tem acesso pelos sentidos, e cuja firmeza está limitada ao tempo.

Já no Éden, o homem, pelo uso da sua razão e por um ato de rebeldia ao governo de Deus, fez a má escolha de desprezar a Palavra do Criador, passando, então, a buscar subsídios terrenos para se apresentar diante de Deus. A propósito, as folhas da figueira que usara para se cobrir já apontavam profeticamente para uma Fé temporal e histórica, baseada na razão, pela qual muitos ainda hoje tentam se achegar a Deus. Essa fé temporal, tal como uma folha, inicialmente verde em seu vigor, murcha sob a ação do tempo e se vai.

A desobediência do homem no Éden evidenciava a perda de um referencial – a Fé – para sua relação com Deus. Diante dessa perda real de vida, viveria a partir de então em busca de outros recursos, utilizando-se da ciência e principalmente do material e concreto como uma tentativa de se justificar ou mesmo alcançar a essência, o Deus do qual se afastou.

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Razão – uma referência relativa 

A história do homem é marcada, de certa maneira, por uma busca cada vez mais acentuada de entender o mundo e a si mesmo. Isso, de certa forma, estava já previsto na pergunta do Éden, “… onde estás?” Gênesis 3:9, que ainda hoje ecoa sem uma resposta totalmente clara. Um dos caminhos adotados por alguns fora o de recorrer única e exclusivamente à razão, tomando como máxima a expressão “toda a fé na razão”, utilizada para motivar o desenvolvimento da razão diante do misticismo em um período importante da história da humanidade [2].

Pode-se dizer que, enquanto a ciência trata de um universo de coisas criadas – ao que denominaremos de Obra Criadora – que são necessárias e úteis para a vida do homem, a Fé está baseada em duas situações: “nas coisas que se esperam” e, principalmente, “naquelas que não se veem”, um outro universo que é eterno e imaterial – ao que denominaremos de Obra Redentora.

Quando o texto bíblico faz menção ao que não se vê, não está se referindo única e exclusivamente àquilo que, pelo limite da ciência, não se pode compreender. Pelo contrário, se refere àquilo que, por muitas vezes, pode ser visto, mas que, sem a revelação do Espírito Santo, não se pode entender na sua plenitude, como é o caso da exegese bíblica apenas na letra.

No campo da ciência, toda a construção parte sempre de algum ponto do qual ela pode referenciar os seus tratados. Esse ponto pode ser a observação simples e pura de um fenômeno ou a conclusão lógica a partir de um fato. Pode-se, então, dizer que há sempre a busca pela referência em algo. Tal busca tem o seu valor nesta Obra Criadora, haja vista que a ciência é necessária à existência do homem, porém, ela está limitada sempre ao tempo do homem. O limite do homem é o tempo.

Pode-se verificar essa limitação também em vários campos da ciência mas na física, em especial, a noção de referência ou de referencial assume um papel determinante na compreensão tanto do espaço como do próprio tempo, bem como do estabelecimento das leis, como é o caso da mecânica de Newton. A figura 1 apresenta um ponto de referência no espaço, “O”, a partir do qual se pode localizar diferentes eventos sobre uma forma diferencial, a partir deste ponto se pode realizar medidas tanto de espaço quanto de tempo por meio dos vetores “ r, r’ ” definidos nesta superfície “M ”. Na Física a definição de referencial, por mais que necessária, na sua essência, não passa de uma abstração [4]. Conforme visto, o limite do homem está no tempo e no tocante a esse  aspecto, a necessidade de uma referência de medida sempre existiu.

Referencial de tempo – A definição de tempo é variável, contudo cabe se ater à definição de tempo cronológico, que surge de um padrão de medida. O tempo que, no passado, como nos dias de Acaz [5], já foi medido de diversas formas diferentes, utilizando o sol, as estrelas, as fases da lua, veio mais recentemente a basear-se no número de flutuações da estrutura do átomo de Césio 133 para definir um padrão de segundo.

Referencial de espaço – Igualmente, a medida de espaço, que no passado utilizava como padrão elementos, o côvado [1], por exemplo, ou mesmo a polegada, os quais podiam variar de um indivíduo para outro, hoje faz uso de ferramentas mais precisas, mas que ainda assim são passíveis de variações por dilatação da própria estrutura da matéria.

Com a mecânica de Einstein, a própria noção de espaço e tempo se funde em uma estrutura única, formando quatro medidas, sujeitas a incertezas, além, obviamente, das já conhecidas, como se expõe na relatividade, seja em sua forma especial ou geral, quando da deformação do espaço-tempo, conforme representado na figura 2.

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Fé – a referência absoluta

Contrapondo-se a todas as limitações da razão, a Fé se coloca como o elemento fundamental para que o homem possa se apresentar novamente a Deus, como o agente de união entre Deus e o homem – o elo perdido no Éden por conta da rebeldia ao governo de Deus. A razão científica está limitada a quatro medidas enquanto a Fé se apresenta como um elemento de um outro universo, uma Obra Redentora [7]. Podemos considerá-la como uma quinta medida, a qual adentra ao tempo do homem, o alcança e o resgata, conforme representado na figura 3.

Enquanto as referências científicas mudam, nessa quinta medida o Senhor Deus se apresenta como imutável. “Porque Eu, o Senhor, não mudo…”, Malaquias 3:6. Além disso, o Senhor estabelece uma referência de modo que Ele e somente Ele se consolida como o refúgio seguro, principalmente em tempos de tantas tribulações como os de nossos dias.

Além do texto bíblico citado anteriormente, a Bíblia é plena de citações apontando para o lugar de segurança de Deus para o homem, como um esconderijo e um lugar de descanso: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo à sombra do onipotente descansará”, Salmos 91:1, entre outros.

Como exemplo também dessa segurança, vemos na história de Abraão o caso de um homem que saiu da sua terra em direção a uma terra desconhecida baseando-se em uma promessa, sem saber para onde ia.

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia.”  Hebreus 11:8

A sua orientação não estava baseada em nenhum ponto de referência dessa Obra Criadora. Pelo contrário, estava na obediência à determinação de Deus. Tal obediência lhe consolidaria a Fé, que no período da lei se estabelecia como uma imputação enquanto no período da graça, por meio da morte e ressurreição de Jesus, essa Fé, sendo o próprio Espírito Santo, dá ao homem a condição para que ele consiga atender ao chamado de Deus para sua vida.

A presença desse Espírito Santo neutraliza os ruídos da razão, como se pode observar em alguns exemplos do Novo Testamento [1]. Entre muitos exemplos, cabe destacar a vida de Paulo, apóstolo e exemplo de um homem que, de perseguidor, passou a ser perseguido por conta do encontro com essa Fé – com a revelação de uma medida que ele não conhecia.

“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco,

subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.” Atos 9:3

Uma Fé que o alcança e lhe tira do caminho da cegueira e da morte. Essa Fé é, portanto, o elo perdido pela desobediência e hoje, pelo Espírito Santo, se estabelece como fundamento para para ligar o homem do universo criador ao universo redentor, o que fundamenta a caminhada da Igreja viva. Essa Fé pode hoje ser restabelecida na vida do homem, sem desprezar a criação, mas firmada na Obra Redentora por meio do autor e consumador da Fé, o Senhor Jesus, com o único propósito de resgatar o homem ao seu lugar de origem, uma eternidade com Deus, conforme ilustrado na figura 3.

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Conclusão 

No que tange a Obra Criadora, a luz, segundo a relatividade, apresenta uma referência tanto para as medidas de espaço quanto de tempo, já na Obra Redentora, Jesus oferece à alma do homem uma eternidade de paz, segurança e amor, referência pautada única e exclusivamente na Fé. Uma Fé que perde o seu valor quando é materializada, afastando a alma da certeza de salvação e vida eterna. Estamos vivendo um cenário em que cada vez mais a Fé tem menos espaço, como um elo que para muitos tem se tornado cada vez mais perdido e que poderá ser encontrado nesta hora pela operação do Espírito Santo.

Particularmente, neste momento profético em que a igreja se prepara para a sua partida para a Eternidade com Deus, torna patente a necessidade de uma reflexão pessoal sobre em que, ou em quem, a Fé de muitos tem estado firmada, qual tem sido, estimado leitor, o referencial para sua Fé? Fica, a propósito, o testemunho do apóstolo Paulo para reflexão:

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a Fé.” II Timóteo 4:7

Maranata, o Senhor Jesus vem!

 

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